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Revista Concerto
Prazer de Criar

Camila Fresca

1 de dez. de 2023

Juliana Ripke desponta no cenário da composição brasileira e tem obra estreada pela Orquestra Ouro Preto

Não é exagero dizer que, hoje, Juliana Ripke é uma das mais requisitadas compositoras brasileiras. De 2021 para cá ela teve obras encomendadas e estreadas pela Orquestra Sinfônica da USP, Coral Paulistano, Orquestra Sinfônica de Santo André, Coral Jovem do Estado, Filarmônica de Indaiatuba e, no último mês, pela Orquestra Jovem Vale Música, na última edição do Festival de Música do Espírito Santo. “É verdade, tenho tido essa sorte de só escrever sob encomenda”, afirma a jovem compositora de 35 anos. Em uma conversa entre o intervalo de um ensaio na Sala São Paulo e o início da jornada na Emesp, Juliana contou que, em sua carreira, “tudo aconteceu naturalmente”.

Os pais sempre a estimularam a explorar o universo sonoro. Aos 9 anos de idade, ela começou a estudar piano e, aos 13, ingressou na Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Seu pai, que adorava MPB, torcia pelo piano popular, enquanto a mãe achava que uma mulher pianista deveria ser concertista. Juliana optou pelo piano popular, ingressou na Big Band da escola, conseguiu uma bolsa de estudos e passava a maior parte dos dias na Fundação das Artes. Começou a fazer prática de conjunto, tocar em eventos e, paralelamente, a estudar piano erudito na Escola Municipal de Música.

Formada na fundação aos 18 anos, novamente não sabia que área seguir. Acabou ingressando na Faculdade Cantareira para cursar piano popular com Yaniel Matos. “Mas sempre fui fazendo de tudo”, lembra. Já na faculdade, começou a trabalhar no Instituto Baccarelli, onde se aproximou da música coral. “Acompanhar e compor para coros determinou muito do que sou hoje”, revela. A carreira acadêmica ainda incluiu mestrado e doutorado em musicologia pela ECA-USP.

A composição, ela explica, veio a partir dos arranjos que escrevia, e ainda escreve, “desde os grupos que havia fundado quando estudava na Fundação das Artes”. O próximo passo foi compor para os coros com os quais trabalhava e, então, escrever música instrumental. “As coisas foram acontecendo e hoje faço o que gosto: ser pianista acompanhadora e compositora. Acho que toda essa trajetória foi para entender que era isso que eu realmente queria”, afirma.

Com uma rotina frenética, Juliana atualmente se desdobra como professora e pianista do Coral Jovem do Estado, do Coro Acadêmico da Osesp, da Emesp e do Baccarelli. Compõe e arranja obras sob encomenda para diversos grupos, além de atuar como pianista acompanhadora em programas que vão de trilhas de cinema a obras de Chico Buarque orquestradas.

A todas essas atividades, somou-se recentemente um novo papel: o de mãe. “O tempo que tenho para produzir agora é muito diferente. Antigamente, podia ficar fora o dia inteiro e escrever a hora que quisesse. Hoje em dia tenho que programar a hora de trabalhar. Às vezes me vem uma ideia e anoto no celular, gravo um trecho e só depois coloco no papel. Não tenho a escolha de estar cansada, preciso estar sempre bem para produzir, porque eu quero, e também para cuidar de minha bebê. Mas me sinto uma musicista e uma mulher muito melhor depois que ela nasceu. Com ela, além do cansaço, vieram uma força, uma alegria, uma luz para tudo. Não sei explicar como isso acontece”, afirma.

Ser uma profissional mulher no meio musical envolve encarar algumas coisas: além da enorme desigualdade de gênero, também o dilema de saber navegar no movimento de reparação histórica. “Acho que muitos convites surgem sim por causa disso”, reflete, “só que é por conta dessas oportunidades que podemos mostrar nossa competência. Não fossem esses convites, às vezes feitos claramente para preencher uma ‘cota’ feminina na programação, seriam menores as chances de mostrar nosso trabalho.”

Em dezembro, além de arranjos para as orquestras do Guri e da do Theatro São Pedro, Juliana Ripke estreia Marília de Dirceu: uma cantata mineira, sobre texto de Tomás Antonio Gonzaga, encomenda da Orquestra Ouro Preto com os solistas Marília Vargas e Jabez Lima. E, para 2024, já estão agendados a estreia dos Quartetos imaginados no 1 com o Art String Quartet; uma obra para a Banda Jovem do Estado; e a versão em dois movimentos das Invenções brasileiras no 1 com a Orquestra de Câmara do Chile e o trombonista Darrin C. Milling – a mesma peça, em edição concertante, será tocada pela Orquestra Filarmônica de Goiás em junho de 2024. Composto por três obras até o momento, o ciclo Invenções brasileiras é, segundo explica Juliana, uma brincadeira que, a partir da ideia da invenção de tradições, mistura Bach, Villa-Lobos e o Brasil.

Para o futuro, ela vislumbra abrir caminho para compor para grandes orquestras, bem como escrever uma ópera e um ciclo de canções. “Quero me firmar como compositora sem precisar provar que sou competente porque sou mulher.”

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Site: @nathan.viana

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